quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Curso melhora ensino de português a refugiados!







http://www.onu-brasil.org.br/view_news.php?id=6327
Brasília, 17 de janeiro de 2008 - Os professores que ensinam português aos 108 refugiados palestinos que vivem no Brasil estão sendo capacitados durante esta semana pelo Ministério da Educação (MEC). O objetivo do curso é agilizar a aprendizagem da língua portuguesa pelos refugiados para facilitar a integração social e econômica do grupo que chegou no país em 2007.
Esta é uma iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), ligada ao MEC. "Este projeto, com um custo total de cerca de R$ 30.000, reveste-se de uma importância fundamental, já que representa uma contribuição concreta do Estado Brasileiro para a integração dos refugiados tão generosamente acolhidos em seu território", afirma Margarida Fawke, Oficial Encarregada da representação do ACNUR no Brasil.
O curso é oferecido por professores do Setor de Estudos Árabes da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a iniciativa do ACNUR com o MEC inclui também a distribuição de 50 manuais e dicionários aos refugiados para auxiliar na aprendizagem da língua, facilitando principalmente o desempenho das crianças nas escolas e dos adultos no mercado de trabalho.
Para o coordenador do curso, professor João Baptista Vargens, os refugiados palestinos ainda passam por um período de adaptação no país, o que torna o processo de aprendizado mais lento. "Eles enfrentam dificuldades como o choque cultural, as diferenças no modo de vida e de relacionamentos cotidianos aos quais estavam acostumados", explica o professor.
Uma das alunas do curso, a professora Najah Samara Al Khatib, do Rio Grande do Sul, afirma que as aulas estão sendo importantes para tirar dúvidas e ampliar seus conhecimentos sobre metodologia de ensino. "Está sendo uma ótima oportunidade também para trocar idéias e experiências com os outros professores", contou Najah. Ela sugere que esta capacitação seja continuada.
Para o professor Vargens, outra barreira para os refugiados que aprendem português é a heterogeneidade do grupo, já que existem diferentes faixas etárias e graus de escolaridade em uma mesma turma. Por isso, os professores consideram a possibilidade de organizar turmas que levem em consideração tais aspectos.
Margarida Fawke, do ACNUR, explica que as contribuições financeiras do governo brasileiro no processo de integração dos refugiados são fundamentais e tem crescido significativamente. "O escritório do ACNUR no Brasil vem promovendo uma participação financeira crescente do governo na assistência aos refugiados, assim como sua inclusão em todas as políticas públicas como uma forma de consolidar o sistema de asilo no país, que tem uma das leis mais avançadas do mundo em matéria de refúgio", afirma Margarida. Quando uma pessoa abandona seu país para buscar proteção noutro país, geralmente abandona tudo, desde seus pertences até a sua rede social, tornando as necessidades dos refugiados inúmeras e variadas. Assim, é importante que os países que os acolhem possam apoiá-los no atendimento de suas necessidades básicas, até que estes possam "caminhar com os seus próprios pés", afirma a funcionária do ACNUR.
Em 2007, além da contribuição que o ACNUR recebeu do Ministério das Relações Exteriores - uma doação de cerca de 60 mil reais para o programa de reassentamento solidário - o Ministério da Justiça contribuiu com R$ 630 mil por meio de doações feitas às organizações não-governamentais que são responsáveis pela assistência social aos refugiados que chegam no país.
A decisão de receber o grupo de refugiados palestinos foi anunciada em junho do ano passado pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), presidido pelo Ministério da Justiça. O grupo vivia desde 2003 no campo de refugiados de Ruweished, na Jordânia (a 70 quilômetros da fronteira com o Iraque). As condições do campo, localizado numa região desértica, eram precárias: a região é infestada por escorpiões, as tempestades de areia são constantes e as variações climáticas tornam a região inóspita durante o todo o ano. Por isso, após a saída deste último grupo de refugiados, o campo foi fechado.
Os refugiados palestinos que chegaram ao Brasil em 2007 foram beneficiados pelo Programa de Reassentamento Solidário, criado para receber refugiados que escaparam de conflitos armados ou violência generalizada, mas que não podem continuar no primeiro país de refúgio. O programa regional de reassentamento foi desenvolvido no contexto do Plano de Ação do México, uma estratégia conjunta de proteção aos refugiados na América Latina e assinado por 20 países da região em 2004, inclusive o Brasil.
Atualmente, o maior grupo de reassentados é composto por vítimas de conflito armado na Colômbia. O reassentamento é uma medida de proteção que oferece um ambiente mais seguro para os estrangeiros que continuam enfrentando ameaças, perseguições e problemas de integração no país de refúgio.
O Brasil possui hoje cerca de 3,7 mil refugiados reconhecidos, provenientes de 69 nacionalidades diferentes. A grande maioria (78%) vem do continente africano, e os angolanos formam a maior população (1.669 pessoas). A partir da avaliação do processo de integração do grupo que chegou ao país em 2007, o governo brasileiro estuda a possibilidade de receber outro grupo de refugiados palestinos ainda este ano.

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