terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Como conhecer o cérebro dos disléxicos!













Dislexia: uma síndrome ainda pouco conhecida
A dislexia é um problema que, se não diagnosticado precocemente, pode acarretar sérias conseqüências na vida de uma criança. Veja neste artigo como pais e educadores podem identificar uma criança disléxica e providenciar tratamento adequado.Por Vicente Martins, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú, em Sobral (CE)
Como descobrir uma criança disléxica?
Nos últimos sete anos, venho desenvolvendo estudos sobre a contribuição da lingüística para o diagnóstico da dislexia. A dislexia é uma síndrome pouco conhecida e pouco diagnosticada por pais e por educadores – especialmente pedagogos e médicos – que se voltam ao desenvolvimento cognitivo das crianças na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio).A dislexia é uma perturbação ou transtorno na leitura. A criança disléxica é um mau leitor: é capaz de ler, mas não é capaz de entender o que lê de maneira eficiente. À primeira vista, o que nos chama a atenção é que uma criança disléxica é inteligente, habilidosa em tarefas manuais, mas apresenta um quadro de dificuldade de leitura que persiste da Educação Infantil ao Ensino Superior.Minha estimativa, por baixo, é de que, no Brasil, pelo menos 15 milhões de crianças e jovens sofram de distúrbios de letras. Creio que a dislexia é a maior causa do baixo rendimento escolar brasileiro.
Dislexia e fracasso escolar
A linguagem é fundamental para o sucesso escolar. Ela está presente em todas as disciplinas e todos os professores são potencialmente professores de linguagem, porque utilizam a língua materna como instrumento de transmissão de informações. Muitas vezes uma dificuldade na aprendizagem da Matemática está mais relacionada à compreensão do enunciado do que ao processo operatório da solução do problema. Os disléxicos, em geral, sofrem também de discalculia – dificuldade de calcular – porque encontram dificuldade de compreender os enunciados das questões.Por isso é necessário que o diagnóstico da dislexia seja precoce. Já nos primeiros anos da Educação Infantil, pais e educadores devem se preocupar em encontrar indícios de dislexia em crianças de 4 a 5 anos aparentemente normais. Quando não se diagnostica a dislexia ainda na Educação Infantil, os distúrbios de letras podem levar crianças de 8 a 9 anos – já no Ensino Fundamental, portanto – a apresentar perturbações de ordem emocional, afetiva e lingüística. Uma criança disléxica encontra dificuldade para ler e as frustrações acumuladas podem conduzir a comportamentos anti-sociais, à agressividade e a uma situação de marginalização progressiva.Pais, professores e educadores devem estar atentos a dois importantes indicadores para o diagnóstico precoce da dislexia: a história pessoal do aluno e as suas manifestações lingüísticas nas aulas de leitura e escrita.Quando os professores se deparam com crianças inteligentes, saudáveis, mas com dificuldade de ler e entender o que leram, devem investigar imediatamente se há existência de casos de dislexia na família. Em geral, a história pessoal de um disléxico traz traços comuns, como o atraso na aquisição da linguagem, atrasos na locomoção e problemas de dominância lateral. O histórico de dificuldades na família e na escola poderá ser de grande utilidade para profissionais como psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos que atuam no processo de reeducação lingüística das crianças disléxicas.Os sinais do problema
No plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia, como "a-o", "h-n" e "e-d". As crianças disléxicas escrevem com letra muito defeituosa, de desenho irregular, o que denota perda de concentração e de fluidez no raciocínio.As crianças disléxicas confundem letras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço, como "b-d", "d-p", "b-q", "d-b", "d-q", "n-u" e "a-e". A dificuldade pode acontecer ainda com letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos, como "d-t" e "c-q".Na lista de dificuldades dos disléxicos, para o diagnóstico precoce dos distúrbios de letras, educadores, professores e pais devem ficar atentos para as inversões de sílabas ou palavras como "sol-los", "som-mos", bem como para a adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de sílabas, salto de linhas e soletração defeituosa de palavras.Por fim, com os novos recursos da sociedade informática, pais e educadores devem redobrar os cuidados. O mau uso do computador, por exemplo, pode levar a criança a ter algum distúrbio de letras. Até agora, não há estudos científicos sobre o assunto, mas relatos de pais e professores revelam que posições pouco ergonômicas diante do computador podem comprometer o sistema perceptivo da criança, levando à dificuldade de leitura e escrita.Acredito ainda que o transporte inadequado de mochilas também pode comprometer o sistema perceptivo das crianças, de modo a embaraçar sua visão na hora de ler ou escrever.


Sobre o autor
Vicente Martins é professor na área de Letras e Educação da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Ceará. Este artigo é resultado de suas investigações sobre as dificuldades de aprendizagem relacionadas à linguagem. As informações aqui apresentadas não substituem a consulta a um médico ou profissional especializado. Para obter informações mais indicadas para seu caso específico, consulte um médico ou especialista na área de Distúrbios de Linguagem.
Mais informações nos sites:
http://sites.uol.com.br/vicente.martins/http://www.dislexiologia.hpg.com.br/